Selma Sueli Silva e Camila Marques
Selma Sueli Silva: Hoje, a gente vai refletir uma questão: Por que alguém, deficiente, a pessoa sendo como é, tendo suas características, quando vai conviver em sociedade, encontra impedimentos em função dessas características? Como a sociedade fornece esses impedimentos? A pessoa se torna deficiente por falta de suporte e ferramentas da sociedade.
Se a sociedade der para essa pessoa suporte, ela, possivelmente, vai viver a plenitude de uma vida. Por exemplo: se a gente tem uma cidade com acessibilidade para os cegos, ok. A falta de visão passa a ser uma característica que a pessoa vai conviver com ela, mas ela tem todas as condições de ter mobilidade dentro dessa cidade acessível. Mas tem uma barreira mais difícil, que é a barreira atitudinal, que é a barreira no jeito das pessoas. É pertubador, né Camila?
Você já viveu uma situação parecida, como encontrar com um surdo e ficar evitando contato com ele porque você não sabia como você iria agir?
Camila Marques: Já! Porque a gente não se educa para lidar com o outro. Muitas vezes, até por não saber o que fazer. Por exemplo, eu não falo língua de libras. Então, a comunicação já é dificultada. Teve uma situação em que eu me encontrei com uma pessoa e eu não sabia o que fazer. Por fim, eu escrevi para ela. Aquela coisa cotidiana de abrir a bolsa, caçar o caderno, um bloco um papel, e falei: “desculpa, não falo libras, mas em que posso ajudar?” Eu estagiei em um lugar, onde trabalhávamos com pessoas e políticas públicas, então nós recebíamos tudo quanto é tipo de gente para as reuniões e plenárias. E, quando você trabalha em assessoria de imprensa ou repartição pública, você está sujeito a lidar com qualquer pessoa, porque são espaços abertos. Então, tive que adotar essa prática.
Selma Sueli Silva: Pois é. Então, percebam: você falou: “a gente não é educada para isso”
. Na verdade, a gente tem que colocar na cabeça que cada um, é cada um. Só que quando a gente está na presença das pessoas, a gente pensa que vai encontrar alguém igual, parecido ou semelhante, mas ninguém é igual a ninguém. Então, o que a gente faz? Encontra um ser humano que não fala: a gente gesticula, escreve… Como você fez, mas, o mais importante é que a gente dê liberdade para a pessoa dizer como pode ajudá-la. Porque, se você não tivesse escrito como você fez, mas se portasse com empatia, com solidariedade, a pessoa surda iria tentar arrumar um jeito de se comunicar com você. Então, na realidade, é não ter reservas. É respeitar o próximo. Ter uma visão do próximo, da pessoa que está com a gente, como ela é. E não projetando estereótipos, ou como gostaríamos que ela fosse. Aí, já é meio caminho andado.Camila Marques: Uma vez, alguém falou, foi até no simpósio (Simpósio Internacional sobre Educação Inclusiva, realizado pelo Mundo Autista, em 2019), que quando a gente olha para o outro, a gente se expande. Então, tudo começa pelo lado humano da coisa mesmo, pela empatia.
Selma Sueli Silva: Pois é pessoal, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. Mas, uma coisa é certa: a relação entre pessoas é a coisa mais rica do mundo. Às vezes, doída, mas com toda a certeza, muito rica.
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