Victor Mendonça
O conceito de neurodiversidade foi desenvolvido pela socióloga australiana Judy Singer nos anos 90 e, recentemente, ganhou repercussão através de ativistas como Amy Sequenzia, Ido Kedar e Nick Walker (os dois primeiros autistas não verbais). Aqui no Brasil ainda vem engatinhando com o ativismo de autistas adultos como Rita Louzeiro, Amanda Paschoal e Fernanda Santana (presidenta da organização nacional Abraça, nossa maior e talvez única referência brasileira nesse sentido de protagonismo dos autistas no ativismo pelos próprios direitos). Fernanda, inclusive, já discursou na ONU.
Esse conceito defende a ideia de que o autismo não é uma doença a ser curada e também a criação de uma cultura de orgulho da identidade autista não como forma de glamourizar a condição, mas para prevenir o suicídio entre autistas, visto que dados apontam que autistas vivem em média 16 anos a menos que a população em geral, sendo o suicídio a principal causa, ao lado da epilepsia.
Esse conceito é importante para proteger os direitos de pessoas no espectro do autismo visto que o autismo é uma deficiência essencialmente na área da comunicação e muitos podem não saber se expressar, mesmo sendo verbais (ver alexetimia – condição caracterizada por marcante dificuldade de expressar pensamentos, emoções e sensações corporais, presente em grande parte dos aspergers) e a maioria dos autistas moderados ou severos não chega a desenvolver a fala.
Defende-se que comportamento é comunicação, ou seja, se o autista arranca todos os fios de cabelo um por um, busca o autoextermínio, se arranha com a faca, se morde, se bate ou mesmo parte para agressão, apenas a sedação medicamentosa não irá resolver o problema, pois na verdade ele faz isso para expressar alguma insatisfação que não consegue comunicar por palavras.
A neurodiversidade não é contra a medicação para autistas, desde que ela seja analisada pelo caso da pessoa e não utilizada apenas como meio de controle de comportamento. Atualmente, no Brasil apenas dois remédios são autorizados para o ‘tratamento’ do autismo em si, um deles é o Respiridona, distribuído pelo SUS.
A neurodiversidade também serve para proteger autistas de tratamentos feitos por escolha dos pais e não dos próprios autistas, que podem causar danos irreversíveis a quem é submetido a eles.
Por fim, gostaria de destacar que a neurodiversidade é importante para combater a ideia de que a pessoa no espectro autista é a única que precisa de tratamento (para o ‘autismo’, ou seja, cuja maior finalidade é a remoção de traços autistas visíveis e socialmente incômodos, como estereotipias do tipo balançar as mãos, e não o bem estar da pessoa autista) em contextos sociais e familiares que envolvem uma gama de questões não apenas ligadas a um transtorno mental, mas sim a toda a complexidade da vida humana e de suas relações.
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