A gente aprende muito melhor brincando - O Mundo Autista
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A gente aprende muito melhor brincando

Victor Mendonça e Raquel Romano

Victor Mendonça: Qual a origem da brincadeira, do lúdico? O que seria esse lúdico? Muitas vezes, as pessoas acreditam que “brincadeira é coisa de criança. “Adulto tem que trabalhar”, como se o trabalho não pudesse ser uma fonte de prazer. Como se a vida adulta ou de adolescentes, na escola, devesse ser algo maçante. Mas saibam, o lúdico é um privilégio de adultos, crianças, de adolescentes, de jovens e idosos.

Raquel Romano: Claro, afinal de contas, brincar é um exercício para a vida toda. Se você for olhar lá para trás, nas tribos, os primitivos, os nossos ancestrais, havia sempre o lúdico. Imagine as danças, os rituais, tudo era lúdico. A interação com a natureza, as descobertas dos inventos que exigiam criatividade. O lúdico sempre existiu. Os cantos, as canções, as brincadeiras, os jogos. E, uma coisa que eu fico preocupada é com a educação formal, que muitas vezes leva a criança a brincar até certo ponto e, depois, é como se ela ficasse aprisionada ao aprender. E nós podemos aprender brincando. Aliás, aprendemos muito melhor brincando. Memorizamos melhor quando brincamos. Então, o lúdico tem uma raiz no humor, no bom humor.

As pessoas mal-humoradas, de mal com a vida, são incapazes de ter um olhar para o mundo, um olhar para o diferente, uma apreciação estética para qualquer coisa. Isso também é lúdico. Eu olhar para uma forma, apreciar um filme, uma fala, uma piada, ou seja, os meios de comunicação estão aí todo o dia nos ensinando a educarmos o nosso olhar. E esse olhar precisa ser lúdico para que a pessoa se liberte. Imagine como seria a convivência de um adulto mal humorado, que não se joga à ludicidade convivendo com uma criança. Isso é muito ruim, é maléfico.

Brincar é um processo tão natural que os pais podem e devem trazer para os filhos, a escola pode planejar seus conteúdos baseados nas vivências dos educadores e fazer isso de uma forma acoplada com os conteúdos. E, eu penso muito na educação, porque são momentos em que a criança fica quase o dia todo numa escola. O processo precisa ser prazeroso, a escola precisa ser um espaço em que ela goste de ir. E, chega um ponto, a criança vai entrando na puberdade, na adolescência, ela começa a ir para a escola por obrigação. Isso é muito sério, é seríssimo. Por quê? Porque está faltando ludicidade, alegria, criatividade. É preciso buscar dentro de cada um aquele potencial que ele tem e não colocá-lo dentro de uma caixinha para depois, na vida adulta, ele sofrer as consequências.

Victor Mendonça: É muito interessante observar que a ludicidade, essa forma de olhar para as coisas não é simplesmente algo do tipo: “agora eu vou brincar o tempo todo para deixar o dia lúdico”. Não. O lúdico está na vida diária, está no olhar para tudo, em como a gente lida com o dia a dia. Meu dia hoje foi muito trabalhoso, mas muito prazeroso também, porque foi lúdico. Eu consegui transformar o meu trabalho em uma coisa mais prazerosa, e mesmo aquelas partes mais desgastantes eu encarei com leveza, criatividade e bom humor.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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