A experiência feminina no filme Barbie e os detalhes sonoros e visuais que tornam essa comédia de Greta Gerwig uma obra-prima.
“Barbie”, o primeiro filme a ter direção solo de uma mulher e arrecadar mais de um bilhão de dólares nas bilheterias mundiais, não se assemelha a nenhuma experiência cinematográfica que eu já vivi na vida. É que pouquíssimas obras conseguem se mostrar inovadoras de verdade. Isso porque tudo só é original até que se prove o contrário.
Mas Barbie consegue essa rara proeza. Esta obra com direção e roteiro de Greta Gerwig (“Lady Bird“ e “Adoráveis Mulheres“) revela-se um filme extremamente engraçado. Além disso, consegue provocar reflexões que se desdobram em várias camadas. Dessa forma, o longa-metragem mostra-se deslumbrante dos aspectos técnicos ao tom da narrativa. Isso porque Greta oferece um deleite visual que é eficaz tanto como uma diversão escapista quanto como um grito revolucionário. Ou seja, temos aqui uma obra-prima.
“Barbie” é detalhista em cada detalhe técnico, seja no aspecto sonoro ou visual. Dessa forma, provoca o desejo de uma revisita à obra assim que ela termina. Isso porque é impossível pegar tantas nuances de uma vez só. Assim, há inteligência e cor dos figurinos ao design de produção. E o que é ainda mais incŕivel, tudo isso revela-se coerente com a trajetória em constante transformação da personagem. Até a maneira como Greta Gerwig referencia 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), durante a abertura, é coerente e notável.
Também merecem destaque as vibrantes sequências musicais, assim como a cena em que toca a canção original vencedora do Oscar “What I Was Made For“, de Billie Elish e Finneas O’Connor. Este é um momento comovente porque resume a busca por emancipação, o desejo por deixar de ser uma ideia e passar a ocupar seu espaço na produção de conhecimento.
Toda essa maravilha visual e sonora encontra-se afinada com as reflexões e temáticas propostas, de modo a revelar-se fundamental para o desenvolvimento da narrativa, que aos poucos vai desvelando percepções sobre o que é ser mulher na contemporaneidade. Assim, temas como a transmissão entre mães e filhas, a sororidade feminina e a falsa dicotomia entre futilidade e inteligência aparecem de maneira espirituosa. O longa-metragem também é crítico a comportamentos socialmente naturalizados dos homens, como o interesse bélico e a autoconfiança excessiva.
Tudo isso ocorre com uma energia e ritmo incríveis, do tipo que não perde uma piada. Além de que, o elenco capitaneado por Margot Robbie e Ryan Gosling é perfeito na difícil missão de evocar as complexidades e arestas de cada personagem sem esquecer-se da natureza arquetípica e estereotipada deles. Até Will Ferrell, como o CEO da Mattel que vive cercado de puxa-sacos, entra na brincadeira com brilhantismo. Nesse sentido, cabe a America Ferrera aproximar a narrativa do mundo real, o que chega ao ápice em seu monólogo catártico.
Sophia Mendonça é jornalista, professora universitária e escritora. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Ela também ministrou aulas de “Tópicos em Produção de Texto: Crítica de Cinema “na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junto ao professor Nísio Teixeira. Além disso, Sophia dá aulas de “Literatura Brasileira Contemporânea “na Universidade Federal de Pelotas (UfPel), com ênfase em neurodiversidade e questões de gênero.
Atualmente, Sophia é youtuber do canal “Mundo Autista”, crítica de cinema no “Portal UAI” e repórter da “Revista Autismo“. Aliás, ela atua como criadora de conteúdo desde 2009, quando estreou como crítica de cinema, colaborando com o site Cineplayers!. Também, é formada nos cursos “Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica” (2020) e “A Arte do FIlme” (2018), do professor Pablo Villaça.
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