A deficiência intelectual ou as altas habilidades podem coexistir no Transtorno do Espectro Autista (TEA). Embora nenhuma delas seja critério diagnóstico para o autismo. Entretanto, eu sempre me incomodei com a fala de alguns autistas sobre a própria superdotação.
É que esses autistas, geralmente, possuem menor demanda de suporte. Dessa maneira, soava desnecessário enfatizar tal característica. Além disso, a ênfase era vista como um fator que hierarquizava pessoas. Ou seja, pessoas acima ou abaixo uma das outras.
O senso comum sobre deficiência intelectual e as altas habilidades mexe comigo. Certamente, devido à de minha experiência. Desde a infância minha inteligente tem sido ressaltada. Mas isso me trouxe muitos sofrimentos. Por causa da minha percepção aguçada diante dos fatos e situações.
Fica claro que o mais efetivo é o que fazemos com nossa inteligência. Afinal, a inteligência é um conceito de complexa definição científica. Então, o uso das habilidades deve ser funcional. O que resulta em uma pessoa mais feliz.
Recebi, há pouco tempo, a devolutiva de meu mais recente teste de QI . A avaliação é baseada na Escala Welscher de Inteligência. Assim, ela se divide entre duas grandes áreas: O QI verbal, focado em conhecimento adquirido e processos verbais. E o QI de execução, mais ligado ao raciocínio lógico e resolução de problemas.
Dessa forma, descobri alta discrepância entre esses dois principais aspectos da medição do QI: estou entre os 3% da população que tem essa expressiva diferença entre esses dois aspectos do QI. Por exemplo, minhas habilidades ligadas a aspectos da linguagem e comunicação são muito acima da média. Mas, há uma diferença de quase 40 pontos em relação às habilidades do QI de execução.
O que eu senti ao receber essa devolutiva, foi uma sensação de alívio. Entendi porque eu era vista como uma menina extremamente inteligente e comunicativa. Mas também, como uma garota que enfrentava desafios ao desempenhar tarefas simples do dia a dia.
Em minha trajetória, por diversos momentos, fui rotulada como preguiçosa. E até pouco cuidadosa. O resultado do teste de QI me deu um sentimento de rebeldia. Mas não revolta. Notei que posso seguir em frente. E não vou me limitar a essas características.
Ao contrário, vou trabalhá-las para me tornar a pessoa mais feliz que puder ser. E o mais bem adaptada possível.
O que faço com o resultado do que sou é o que realmente importa. O autoconhecimento nos permite a aceitação do jeito que somos. E também nos estimula a transformar o que precisa ser modificado.
Sophia Mendonça é bacharela em Jornalismo e escritora. É também mestranda em Comunicação Social e bolsista da FAPEMIG. Sophia é membro do Afetos, grupo de pesquisa em Comunicação, Acessibilidade e Vulnerabilidades. Foi diagnosticada autista aos 11 anos, em 2008.
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