A deficiência intelectual e as altas habilidades no TEA - O Mundo Autista
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A deficiência intelectual e as altas habilidades no TEA

Um homem em segundo plano, olhando o desenho do cérebro. O lado esquerdo cheio de representações de contas matemáticas e o direito todo colorido. Ilustração do texto: A deficiência intelectual e as altas habilidades no TEA

Foto: ImageFlow / Shutterstock.com do site InfoEscola

A deficiência intelectual ou as altas habilidades podem coexistir no Transtorno do Espectro Autista (TEA). Embora nenhuma delas seja critério diagnóstico para o autismo. Entretanto, eu sempre me incomodei com a fala de alguns autistas sobre a própria superdotação.

É que esses autistas, geralmente, possuem menor demanda de suporte. Dessa maneira, soava desnecessário enfatizar tal característica. Além disso, a ênfase era vista como um fator que hierarquizava pessoas. Ou seja, pessoas acima ou abaixo uma das outras.

O discurso da deficiência intelectual e as altas habilidades

O senso comum sobre deficiência intelectual e as altas habilidades mexe comigo. Certamente, devido à de minha experiência. Desde a infância minha inteligente tem sido ressaltada. Mas isso me trouxe muitos sofrimentos. Por causa da minha percepção aguçada diante dos fatos e situações.

Fica claro que o mais efetivo é o que fazemos com nossa inteligência. Afinal, a inteligência é um conceito de complexa definição científica. Então, o uso das habilidades deve ser funcional. O que resulta em uma pessoa mais feliz.

Teste de QI, vale a pena fazer?

Recebi, há pouco tempo, a devolutiva de meu mais recente teste de QI . A avaliação é baseada na Escala Welscher de Inteligência. Assim, ela se divide entre duas grandes áreas: O QI verbal, focado em conhecimento adquirido e processos verbais. E o QI de execução, mais ligado ao raciocínio lógico e resolução de problemas.

Dessa forma, descobri alta discrepância entre esses dois principais aspectos da medição do QI: estou entre os 3% da população que tem essa expressiva diferença entre esses dois aspectos do QI. Por exemplo, minhas habilidades ligadas a aspectos da linguagem e comunicação são muito acima da média. Mas, há uma diferença de quase 40 pontos em relação às habilidades do QI de execução.

O que eu senti ao receber essa devolutiva, foi uma sensação de alívio. Entendi porque eu era vista como uma menina extremamente inteligente e comunicativa. Mas também, como uma garota que enfrentava desafios ao desempenhar tarefas simples do dia a dia.

O autoconhecimento nos liberta dos rótulos

Em minha trajetória, por diversos momentos, fui rotulada como preguiçosa. E até pouco cuidadosa. O resultado do teste de QI me deu um sentimento de rebeldia. Mas não revolta. Notei que posso seguir em frente. E não vou me limitar a essas características.

Ao contrário, vou trabalhá-las para me tornar a pessoa mais feliz que puder ser. E o mais bem adaptada possível.

O que faço com o resultado do que sou é o que realmente importa. O autoconhecimento nos permite a aceitação do jeito que somos. E também nos estimula a transformar o que precisa ser modificado.

Sophia Mendonça, jornalista e mestranda pela UFMG

Sophia Mendonça é bacharela em Jornalismo e escritora. É também mestranda em Comunicação Social e bolsista da FAPEMIG. Sophia é membro do Afetos, grupo de pesquisa em Comunicação, Acessibilidade e Vulnerabilidades. Foi diagnosticada autista aos 11 anos, em 2008.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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