Estudo britânico, de 2018, apontou que quase 100%, ou seja, 96% das mulheres sentem culpa, pelo menos, uma vez ao dia. Aliás, essa sensação de culpa aumenta se a mulher for mãe. Além disso, eu sei por experiência própria, que a culpa na mulher autista pode ser elevada à enésima potência. Ser autista é um exercício diário. Entretanto, ser mulher, autista e mãe é uma combinação explosiva.
Certamente, a culpa não é exclusividade feminina. Porém, existe a carga acentuada de uma cobrança estrutural da sociedade, ao universo feminino. Conquistamos o mercado de trabalho, mas não abandonamos as várias jornadas de mãe, esposa, filha, amiga, gestora de nossos lares.
E, ainda, temos de fazer tudo com excelência e um sorriso nos lábios. Sob pena de ouvirmos, por exemplo, que estamos de TPM, ou qualquer outra justificativa tão sem noção quanto. A armadilha de acreditar que somos a ‘Mulher Maravilha’ pode nos levar à sobrecarga e, consequentemente, à maior possibilidade de errar. Haja culpa!
Ninguém é perfeito. Isso é inatingível. Ainda assim, é o que se cobra da mulher. Tudo isso, claro, só piora o quadro da mulher autista. Ela nasce com essa carga maior de cobrança por ser mulher. E não para por aí. Dentro do espectro, com os diferentes graus de autismos, as manifestações mais conhecidas são na versão masculina.
Portanto, ao não se enquadrar no que se espera do modelo cultural do feminino, a mulher autista é mais cobrada e, consequentemente, possui uma sensação de culpa inesgotável. O que mais dizemos em nossas tentativas de socialização é: ‘desculpa’. Assim, o que já é difícil (culpa feminina), torna-se insuportável. Acrescente-se a isso as conclusões simplistas como: ‘ela está precisando de um namorado’ e, pior, as considerações capacitistas: ‘ela não consegue terminar nada do que começa.’
Em 2022, desejo mais amor e menos cobranças, mais solidariedade e menos julgamentos, mais estudo e menos ‘achismos’, mais observação e menos decisões precipitadas. Mas, acima de tudo, desejo mais relações sociais igualitárias e equânimes.
Somente desse modo, nós mulheres autistas, teremos menor sensação de culpa. Afinal, antes de ser mulher, mãe e pessoa com deficiência, somos cidadãs, com direitos garantidos por lei. E, claro, somos, também, seres humanos que necessitam de suporte, que nos garantam nosso direito à vida plena, com equidade.
Texto de Selma Sueli Silva
Você sabia que a música Firework, de Katy Perry, é um hino budista? Confira a…
Enfeitiçados parte de uma premissa inovadora e tematicamente relevante. O filme traz uma metáfora para…
Sophia Mendonça resenha o especial de Natal A Nonsense Christmas with Sabrina Carpenter, com esquetes…
O autismo na série Geek Girl, uma adaptação da Netflix para os livros de Holly…
Os Fantasmas Ainda se Divertem funciona bem como uma fan service ancorada na nostalgia relacionada…
Ainda Estou Aqui, com Fernanda Torres, recebeu duas indicações ao Globo de Ouro e está…