Primeiro vamos explicar sobre ‘A Comunicação Social e o Autismo’. Muitas pessoas e até profissionais de saúde questionam o autista que se comunica bem. Desse modo, quando ele não tem dificuldades no diálogo, ele é rotulado. Afinal, a maioria acredita que todo o autista tem dificuldade na comunicação.
Quando eu prestei vestibular, ainda sem diagnóstico, eu escolhi o curso de comunicação social. E fiz isso, justamente porque eu não entendia sobre habilidades sociais. Assim, eu ficava muito frustrada, pois ninguém me entendia. E olha que eu era muito falante. Eu falava muito e de uma maneira acelerada.
Dificuldade de comunicação para o autista
Eu me lembro de muitas vezes ter sido interrompida: “Calma Selma! Vamos com calma! Fala mais devagar!” E eu me frustrava. Afinal, eu percebia que as pessoas não me acompanhavam. Dessa maneira, quanto mais eu tentava me fazer entender, mais minha comunicação ficava comprometida.
E foi assim, que essa dificuldade me acompanhou na minha adolescência. Tive muitos problemas com meus namorados. E com as amizades que tentava fazer, também. Eu cursei o ensino médio no CEFET. Fiz Edificações. Mas no vestibular, desisti da engenharia. E quis ser comunicadora. Certamente, esse mundo da comunicação mexeu comigo. É um mundo imenso, vasto. Pleno de ferramentas, cheio de possibilidades.
Habilidades sociais, Comunicação Social e o Autismo
Antes, eu pensava que a comunicação era linguagem. Dessa maneira, para mim, eu me comunicava bem. Primeiro, eu cursei relações públicas. Depois, fiz jornalismo. Um mundo imenso se abriu para mim. Entendi que comunicação ia muito além da linguagem. Descobri a semiótica, que é a linguagem subliminar.
Parecia um paradoxo: uma autista, que tem fragilidade na comunicação, descobre a semiótica. E mais: passa a amar a semiótica. Exatamente, essa linguagem subliminar. Passei a interpretar os quadros de Van Gogh. “Por que ele usava amarelo? Por que as cores dos quadros dele pareciam pular em cima da gente…”. Depois, vieram os filmes. Desse jeito, descobri que o vermelho em determinadas tomadas, predizia a morte. Aprendi o porquê de uma determinada cena mais iluminada, outra não. A sonoplastia, o silêncio – quanta coisa pode dizer o silêncio. Tudo isso é comunicação. Tudo isso nos aproxima ou nos afasta das pessoas. Ou seja, nos aproxima ou nos afasta de quem a gente quer bem.
Estudar comunicação me deu ferramentas para a interação social
A partir daí, comecei a estudar essas ferramentas. Descobri perdas pela falta do diagnóstico. Por exemplo, nunca havia feito fonoaudiologia para falar mais devagar. Já fiz fono, certa vez, por causa de pólipos nas pregas vocais. Mas nunca fiz em função do autismo.
Eu aprendi a falar e a respirar da forma correta. Aprendi que, no coloquial, você fala algo e vai diminuindo o som. Isso, na medida em que fala. Já o repórter de rádio ou televisão precisa falar no mesmo tom do início ao final da frase. Caso contrário, as pessoas perdem o finalzinho da fala. Então, eu comecei a usar isso no meu dia a dia. Além disso, aprendi a olhar no rosto das pessoas para passar confiança. Apesar de ser algo complicado para mim. É que eu não conseguia elaborar e processar as minhas ideias olhando nos olhos da pessoa. Era muita informação. Porém, eu aprendi técnicas para olhar nos olhos. Técnicas para saber o que eu faria com as mãos. E tambéem, como ficaria de pé sem me sentir desajeitada. Minha vida ganhou mais qualidade.
Selma Sueli Silva, jornalista, escritora e youtuber. Diagnosticada dentro do TEA, transtorno do espectro do autismo, em 2016.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.