Há muito tempo quero resenhar o filme A Cinderela, de 1997. Este desejo se dá, principalmente, por esta ser a minha segunda versão favorita do conto de fadas. Ou seja, fica atrás apenas de Para Sempre Cinderela (1998). Isso quer dizer muito, já que a história da gata borralheira é um dos meus maiores hiperfocos desde a infância. Então, estou sempre conferindo as múltiplas readaptações da clássica trama de Charles Perrault. Porém, este telefilme merece uma atenção especial. Inclusive, mas não só, por trazer a primeira princesa negra da história da Disney. Por sinal, a atriz e cantora Brandy é maravilhosa no papel. Aliás, ela reprisará a personagem no filme Descendentes 4.
A Cinderela começa com Brandy andando pelas ruas da cidade onde mora. Logo, ela começa a cantar a bela música “The Sweetest Sounds”. O olhar sonhador e o controle musical impecável dão o tom dessa performance. Isso é exatamente o que o fascinante musical de Rodger e Hammerstein merece. Essa obra foi encenada pela primeira vez em um telefilme de 1957, que trazia Julie Andrews no papel principal. Já em 1965, foi a vez de Lesley Ann Warren calçar o sapatinho de cristal.
A Cinderela também é um telefilme e tem produção da Disney e de Whitney Houston, que também vive a fada madrinha. À época do lançamento, surpreendeu pelo alto orçamento para a televisão e por reunir no elenco alguns dos maiores nomes da Broadway e das séries de TV dos anos 1990. Isso inclui Bernadette Peters como a madrasta e Whoopi Goldberg, que interpreta a mãe do príncipe.
Além disso, A Cinderela apresenta maior consciência social. Ou seja, o filme traz um elenco multiracial e menor passividade nas ações da protagonista. Porém, o que é mais incrível é como o diretor Robert Iscove consegue mesclar essa inovação com a roupagem mais charmosa e tradicional que podemos imaginar. Assim, de um lado o filme envelheceu bem e tornou-se um marco inovador. Do outro, consegue cativar também os espectadores mais românticos ou tradicionais.
Um exemplo de como a obra alcança essa linha tênue está na madrasta de Bernadette Petters. Há registros de que muitas atrizes brancas rejeitaram o papel com receio de caírem em uma abordagem racista da madrasta que destrata a enteada negra. Petters também é uma mulher branca, além de uma das atrizes de teatro mais premiadas da História. Ela acerta o tom ao imprimir vigor e comédia astuta para a madrasta. Assim, compõe uma personagem divertida e que sugere complexidade, sem deixar de ser detestável. Ou seja, a atriz sabe como trabalhar os contrastes da personagem. Esse desempenho sublime atinge o ápice na interpretação da música “Falling Love with Love”. A letra dessa canção, aliás, parece sintetizar o comportamento da personagem.
Por outro lado, Whitney Houston é mais robótica como atriz. Com isso, não evidencia o esforço de uma composição densa como a de Brandy ou Bernadette Petters. Mas isso não importa quando notamos todo o encantamento que ela traz à Fada-Madrinha. Afinal, os vocais poderosos e a interpretação de músicas como “Impossible” e “There are Music in You” conferem nova alegria à obra. Já o filipino Paolo Montalban interpreta o príncipe. Ele tem uma voz charmosa à moda antiga e uma química impecável com a protagonista. Os pais do personagem ganham vida por meio dos bem-humorados Whoopi Goldberg e Victor Garber. Junto com o empregado Lionel (Jason Alexander, de “Seinfield”), eles são o alívio cômico do filme. Mas, mais do que isso, conseguem aproveitar os toques cômicos para desenvolver organicamente a narrativa.
Isso tudo de qualidades e eu ainda nem citei nenhuma das minhas três cenas favoritas do filme. Ou seja, as encenações das músicas “In My Own Little Corner”, “Do I Love You Because You’re Beautiful” e “Ten Minutes Ago”. Enfim, “A Cinderela” traz o conto de fadas na melhor forma.
Sophia Mendonça é uma youtuber, podcaster, escritora e pesquisadora brasileira. Em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.
Você sabia que a música Firework, de Katy Perry, é um hino budista? Confira a…
Enfeitiçados parte de uma premissa inovadora e tematicamente relevante. O filme traz uma metáfora para…
Sophia Mendonça resenha o especial de Natal A Nonsense Christmas with Sabrina Carpenter, com esquetes…
O autismo na série Geek Girl, uma adaptação da Netflix para os livros de Holly…
Os Fantasmas Ainda se Divertem funciona bem como uma fan service ancorada na nostalgia relacionada…
Ainda Estou Aqui, com Fernanda Torres, recebeu duas indicações ao Globo de Ouro e está…