Amizade na Diversidade - O Mundo Autista
O Mundo Autista

Amizade na Diversidade

Victor Mendonça e Raphael Giffoni

Victor Mendonça e o músico Raphael Giffoni falam sobre a amizade na diversidade e respeito.

Victor Mendonça: Raphael Giffoni, grande músico, professor de música e, ao mesmo tempo, eu digo com orgulho, meu grande amigo.

Raphael Giffoni: Cara, você falou uma coisa aí que é verdade: a gente é amigaço! Você é um amigo que a vida me deu de surpresa e que me ajudou justamente até a me colocar nesse rumo que estou hoje, no profissional.

Victor Mendonça: Isso! E hoje, para celebrar nosso tema é a amizade na diversidade, porque descobrimos coisas em comum como o budismo.

Raphael Giffoni: É claro, você quem me apresentou o budismo!

Victor Mendonça: Ao mesmo tempo, temos coisas muito diferentes. Por exemplo: eu sou autista, o Raphael é neurotípico, super neurotípico mesmo, do tipo que adora a socialização. Eu não gosto do imprevisível ao contrário dele que vive saindo da rotina.

O Rapha é hétero e eu sou homossexual e toda uma série de fatores que são diferentes. E a gente quer mostrar que tudo bem, a diferença é algo enriquecedor.

Raphael Giffoni: Na verdade, não faz diferença. Você tem suas particularidades, assim como qualquer pessoa tem suas particularidades. Eu tenho amigo que é muito teimoso, então, eu lido com ele sabendo que ele é teimoso, eu tenho amigo que é influenciável, então eu lido com ele sabendo que ele é influenciável. Eu tenho amigo que não consegue decidir nada, então assim, não faz diferença. O que importa é que você é uma ótima pessoa, você gosta de mim, eu gosto de você também. A gente se ajuda sempre que dá, a gente se importa um com o outro. Então, eu acho que o resto, o resto são detalhes, não faz a diferença.

Victor Mendonça: Nossas particularidades não nos definem.

Raphael Giffoni: O problema é que, muitas vezes, as pessoas tentam imprimir a sua personalidade na amizade pois veem o amigo como posse delas. E não é bem assim. Eu sei que você tem suas limitações em algumas coisas, assim como eu tenho em algumas coisas. Tudo bem: você me trata sabendo disso e eu te trato sabendo também. Não é porque você é autista e eu heterossexual, nada a ver. Para mim, é um imenso prazer conversar com você que é uma pessoa sensacional. Dessa forma, as suas preferências, seus gostos e sua diversidade como um todo nada mais é que do que particularidade sua. É você e tudo bem. Você é assim e faz parte de você. Talvez, se você fosse assim, não seria tão meu amigo. Não sei, não dá para saber. Eu gosto de você do jeito que você é.

Victor Mendonça: É muito bom enxergar o outro como ser humano completo, assim, mesmo que complexo. Esse cara, o Rapha, é um cara bem completo e complexo e ele é expert em algumas coisas.

Raphael Giffoni: Tem coisas que a gente dá uma forçada de barra. Eu li seu livro, o “Outro Olhar, eu li todos os seus livros e o livro fala em como se comportar com o autista e tudo mais e eu falei assim: “beleza, vamos ver até onde o Victor aguenta”. A gente foi pra show em última hora, coisa que você falou que não era para fazer no livro. A gente mudou de plano na hora e você falou que não era para fazer no livro, mas a gente cria um laço de confiança e essas coisas vão sendo permitidas. Você se sente seguro com para isso. O problema é quando a gente sente insegurança e todo mundo sente insegurança, inclusive eu. Mas, você como autista, a sua insegurança pode virar uma crise. O segredo é amizade, confiar no seu amigo, acreditar nele e é isso aí.

Victor Mendonça: quando você confia no seu amigo, você tem um novo leque de possibilidades, uma troca como pessoa e aí, essas coisas que você não faria com outras pessoas, ou sozinho, por serem mais complicadas, com o amigo, elas se tornam prazerosas. Muito obrigado, Rapha. Você me respeita muito, eu sei. Você me coloca para frente, eu gosto muito disso. Valeu.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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