Tive o prazer de conhecer a jovem e renomada escritora Aline Bei durante uma feira literária em Pelotas e, de lá, saí com o primeiro livro dela autografado. Esta obra, o romance “O Peso do Pássaro Morto” (2017), ganhou o Prêmio São Paulo de Literatura. Confesso que iniciei a leitura curiosa para ler em um estilo de romance escrito em prosa poética, talvez um pouco receosa de não conseguir embarcar naquela proposta.
O Peso do Pássaro Morto emociona ao abordar o feminino e a impermanência
Mas, muito pelo contrário, o livro me envolveu logo nas primeiras páginas, que apresentam a protagonista aos 8 anos de idade. Nesse começo, ela se comunica de fato como uma criança ingênua e passa pela primeira grande perda da vida. A partir de então, o romance acompanha a narração dessa personagem em momentos específicos da vida dela, até os 52 anos.
Com isso, “O Peso do Pássaro Morto” fala da impermanência das coisas e consegue transitar, de uma maneira tão delicada quanto visceral, por situações pertencentes à experiência de ser um corpo feminino no mundo. Assim, temas como a culpa materna e o abuso sexual estão entre os assuntos abordados.
Romance de estreia de Aline Bei, em prosa poética, lembra o cinema de Sofia Coppola
Nesse sentido, a escolha de escrever em prosa poética se justifica porque confere um realismo impressionante à narrativa. A autora, que já foi atriz e se inspirou nas obras de Constantin Stanislavski para a escrita, consegue passear com uma precisão incrível pelos movimentos do corpo e da mente da protagonista.
Dessa forma, em uma construção que me lembrou também o cinema de Sofia Coppola, ela se recusa a sublinhar os acontecimentos. Assim, há muitos momentos chocantes e emocionantes na obra. Mas, sem que ela precise recorrer a artifícios exagerados ou pesar a mão no tom dos afetos ali presentes. Já estou ansiosa para ler seu segundo romance, “A Pequena Coreografia do Adeus” (2021)!
Avaliação
Sophia Mendonça é jornalista e escritora. Também, atua como youtuber do canal “Mundo Autista” desde 2015. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Sophia também é formada nos cursos de crítica de cinema “A Arte do Filme” (2018) e “Teoria, Linguagem e Crítica Cinemtográfica” (2021), do professor Pablo Villaça. Assim, em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Já em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.
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