Sophia Mendonça e Raquel Romano
O contato com a natureza é uma das formas de ampliar o nosso olhar para o mundo e tem efeito terapéutico em nossas vidas. Você procura ter algum contato com a natureza? A Raquel e a Sophia falam sobre isso hoje.
Sophia Mendonça: Embora eu seja uma pessoa de natureza muito urbana, na minha infância, eu morei em uma casa grande, que tinha jardim, quintal e eu amava tudo isso. Esse contato com a natureza é muito importante, não é Raquel?
Raquel Romano: Nossa, demais. Eu sinto muita falta. Esse ambiente urbano, às vezes, com muito calor, então eu fecho os olhos e fico imaginando aquelas minas d’água, aqueles córregos e o ar puro da natureza. Eu vejo que aqui na cidade grande a gente tem os prédios, a “selva de pedra” e isso nos deixa muito sufocada. Eu gosto muito do ambiente rural, bucólico, do contato com a natureza. É que eu sinto uma paz muito gostosa, sabe? Aquela coisa dos sons da natureza, os passarinhos, os insetos. Eu acho aquilo tudo de uma leveza, de uma delicadeza poética.
Sophia Mendonça: Que faz, inclusive a gente recarregar as energias e ficar mais forte. Agora, eu fico pensando que muitas crianças nem tem acesso a isso.
Raquel Romano: Sim, tem crianças que nem conhecem vaca, boi ou galinha. Nesse processo de conhecimento das ciências, da biologia, esse contato é fundamental. Como funciona na prática? De onde vem o leite? Tem criança que pensa a vaca preta faz leite preto e a vaca branca, leite branco. É de uma riqueza muito grande a convivência com os animais, com o meio ambiente Aliás, o campo alimenta a cidade grande. De onde vem o café, o arroz, o leite, as frutas. Tudo isso vem do ambiente rural.
Sophia Mendonça: E a gente tem que ter gratidão por isso.
Raquel Romano: Muita gratidão! Precisamos entender o homem do campo. Eu sou do interior e conheço bem essa vida do interior. Vida simples, mas de muita sabedoria, sabe Sophia? Você não tem ideia. Como quando você conversa com um lavrador da roça, de como ele fala dos ciclos na natureza, do tempo, da lua, da chuva. Eles têm uma relação tão direta, tão estreita com a natureza que eles sabem quando vai chover, quando não vai, o porquê o tempo está assim, quando se planta isso ou aquilo. O porquê um plantio não deu certo, é muito bonito. Nós comemos tudo o que vem do homem do campo, mas a gente não sabe quem é esse homem do campo.
Sophia Mendonça: Sim, exatamente. E a gente fica pensando também em como a gente pode se fortalecer, criando tônus para as crianças, principalmente brincando na natureza, é uma relação terapêutica com a natureza.
Raquel Romano: Sim, é terapêutica. Levar as crianças. Eu já tenho um exemplo, que é o meu netinho, o Lucca. Está passando a quarentena e eu já não o vejo há um tempo, em uma casa de campo em Lagoa Santa. Eu falo que lá está sendo a melhor escola para ele. Com dois anos e meio, ele conhece todos os bichos, ele sabe o dia, a noite e o nome das frutas.
Sophia Mendonça: Porque desperta o interesse dele, inclusive.
Raquel Romano: Sim, e de forma natural. Ele conversa com o mico. Outro dia, ele me contou que o macaquinho veio na mão dele: ele estava comendo uma fruta e que o macaquinho veio, pegou a fruta e saiu correndo. Ele achou aquilo lindo, imagina? Eu acho que a criança que convive com a natureza, ela tem mais coragem, menos medos. Porque ela convive em um ambiente real com bichos, com o escuro, a noite e o dia. Ela sabe brincar com as ideias e de uma maneira real, não imaginária.
Sophia Mendonça: Sim, com toda a certeza. Eu tenho uma prima que hoje já é uma adolescente, mas ao mesmo tempo em que ela tem todo o conhecimento de tecnologia, ela também vai para a roça, sabe montar a cavalo. Eu vejo o quanto isso foi benéfico para o desenvolvimento dela.
Raquel Romano: Com certeza. Torna-se uma pessoa mais destemida. Sim, disso não tem a menor dúvida. Eu tenho por vivência própria, de não ter medo de inseto, não ter medo de nada. A gente sabe como, quem habita esse mundo, não somos só nós os humanos.
Sophia Mendonça: A gente amplia nossos olhares.
Raquel Romano: Além do respeito, temos de respeitar a natureza. Vivendo nela, pisando no chão, você aprende a respeitar essa natureza que está tão maltratada. A terra está doente, o planeta está doente. Eu ando muito preocupada com as queimadas, tantos acidentes que estão castigando a terra, não só pelas mãos do homem, mas naturalmente acontecem catástrofes. E, eu fico imaginando o que será do nosso planeta enquanto esse organismo vivo que está muito adoecido. Ele é a nossa Mãe-gaia que na mitologia grega, é a Mãe-Terra, como elemento primordial e latente de uma potencialidade geradora imensa.
Sophia Mendonça: E a gente esquece que essa é a nossa casa, que essa como os povos indígenas falam, essa é a nossa mãe terra, se a gente não cuidar dela, como a gente vai sobreviver de uma forma plena?
Raquel Romano: E o desconforto já está aí com chuvas exageradas, com calor insuportável, está havendo um descontrole completo. Eu digo sempre que a terra está doente e muita gente esquece que ela é um organismo vivo como o nosso corpo. Essa é uma visão que precisa ficar mais clara, não estudar a terra como algo fora da gente. Nós estamos dentro dela. Ela é o macro, e nós somos o micro. Essa interação é muito séria e muito importante. E aí passa pelo nosso respeito, passa pela nossa gratidão a tudo que ela nos oferece e pelo cuidado. Desde um lixo que você joga na rua e que vai entupir um bueiro, São muitas questões pequenas que a gente pode fazer e contribuir individualmente para influenciar o nosso espaço familiar, o espaço de nossa convivência.
Sophia Mendonça: Alguns estudiosos chamam esse período mais recente na história do Planeta Terra de Antropoceno. É quando a ação humana acaba se tornando muito potente, com relação ao planeta terra. Devemos pensar que tipo de ação que a gente quer ter e como definir como vai ser as nossas vidas o lugar em que a gente habita que, como você disse, são duas coisas muito ligadas.
Raquel Romano: Tem um provérbio antigo chinês que diz que esse planeta não nos foi dado, mas foi emprestado a nós pelos nossos filhos. Logo, ele é emprestado e eu preciso devolver aos nossos filhos. Ou seja, para as gerações futuras, eu preciso devolver um planeta bem cuidado. É muito profundo e simples, ao mesmo tempo.
Sophia Mendonça: A gente não quer que as próximas gerações sofram os efeitos negativos que estão acontecendo, mas para não foca
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