Victor Mendonça e Raquel Romano
Victor e Raquel falam sobre a apreciação da própria companhia neste momento em que vivemos.
Victor Mendonça: Eu e a Raquel estamos preparando uma surpresinha, no final, do ano para vocês. Um livro não-convencional, artístico, que será muito bacana.
Raquel Romano: Eu estou muito emocionada e será bem em breve, pois o fim do ano está aí e as pessoas já podem ficar preparadas.
Victor Mendonça: É um desafio lançar um livro em pleno momento de pandemia. E eu queria trazer hoje como tema algo que a pandemia me convidou a fazer, embora eu já precisasse disso desde antes. Eu vivo com a minha mãe, embora eu esteja na casa do meu pai. Mas, em ambos os casos, eu tenho que respeitar o espaço do outro, por causa desse momento de isolamento. E aí, eu tenho que pensar em ficar comigo mesmo. E, como é essa minha companhia? É isso que eu estou tentando perceber e descobrir.
Raquel Romano: Victor, quando começou a pandemia, eu fiz mil planos de ficar à toa, de tomar vinho, lendo um livro, sentada no sofá. Me vi assim, de férias. Mas, que coisa interessante, tudo mudou na prática. Eu estou muito ocupada. Eu estou totalmente sozinha, nem meus filhos me visitam para eu não correr risco e eu tenho observado que eu sou, para mim, a minha melhor companhia. Achei isso fantástico, porque a gente entra em contato com os próprios sentimentos, mesmo conversando com as panelas, a geladeira, com os livros. Mas, eu me observo e eu sinto visceralmente os meus sentimentos. Eu me tornei muito mais produtiva nessa pandemia. Eu acho que aconteceu o mesmo com você, não é Victor?
Victor Mendonça: Eu também. Tudo passou a ser mais intenso. Quanto aos sentimentos, não que sejam ruins, mas botam a gente para frente. Porém, trazem desafios, como a questão da ansiedade.
Raquel Romano: Exatamente! Você tem que controlar a ansiedade porque nós estamos reféns desse tempo de vírus, um tempo que não é nosso. Nós não temos controle sobre ele e realmente temos que ter cuidado porque é um mal invisível. #Fiqueemcasa e se sair, use máscara.
Victor Mendonça: Sim, por isso temos que ficar em casa.
Raquel Romano: Tenho escrito mais e tenho atendido aos meus clientes de arteterapia online, os que dão conta, porque os mais velhos não têm esse domínio. Eu percebo nos meus contatos e nos meus atendimentos que as pessoas estão mais profundas
na sua autopercepção. Então, essa pandemia tem sido também de crescimento. A gente lamenta tudo isso que está acontecendo, com tantas mortes, tantas perdas e as famílias sendo atingidas. Mas, estamos nessa jornada e precisamos fazer dela a mais proveitosa possível.Uma coisa que eu tenho feito é telefonar e apoiar pessoas. Tem muita gente que está adoecendo, se sentindo deprimida, então essa é uma missão que a gente tem.
Victor Mendonça: Eu super concordo. Essa questão do isolamento também, esses sentimentos, tudo traz consequências. Neste momento, não é porque a gente está afastado, que a gente pode deixar de apoiar os amigos. A gente pode usar essa rede de amigos para se fortalecer.
Raquel Romano: Exatamente! Eu tive a oportunidade de ouvir e acolher muitas pessoas que se manifestaram deprimidas, preocupadas com a saúde, com pressão alta. Então, é a presença da gente, da palavra da gente que muitas vezes conforma e anima; isso é importante. Nos escritos, eu tenho percebido uma coisa, uma necessidade mais íntima, sabe? De falar das percepções, dos sentimentos. É a gente se manifestando de uma forma mais verdadeira. E, com essa questão de ficar em casa, não tem o estresse das saídas, das voltas, dos encontros, dos burburinhos da sociedade, o que nos deixa mais concentrados.
Victor Mendonça: Embora eu adore e sinta falta de ter contado com outras pessoas, pois nada substitui o contato vida-vida, o desgaste de ir para um lugar ou outro é bem real. O mais importante é que a gente tem o tempo presente para executar as nossas ações. Então, mesmo diante de um cenário tão complexo como esse que a gente está vivendo, temos que fazer o melhor aqui e agora. E, nesse ponto, incentivar às pessoas que estão à nossa volta. Vale lembrar que estamos aí, no setembro amarelo, o que nos convida a pensar em formas de diminuir o número de suicídios.
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