O poder da Oração - O Mundo Autista
O Mundo Autista

O poder da Oração

O poder da Oração

Caio Abujadi e Selma Sueli Silva

Ciência e espiritualidade podem caminhar juntas? Em uma entrevista especial, o psiquiatra Caio Abujadi fala sobre isso.

Selma Sueli Silva: Certa vez, um psiquiatra me disse da importância da importância da oração para harmonizar a nossa mente. E é sobre isso que vou conversar com o Dr. Caio Abujadi. Ele é psiquiatra com ênfase em Psiquiatria da infância e adolescência, sócio fundador da Associação Caminho Azul, instituição de caráter filantrópico, educacional e assistencial, com a finalidade de atender crianças e familiares carentes com o Transtorno do Espectro do Autismo.

Dr Caio Abujadi: Esse tema é maravilhoso. O homem tem tentado, há muito tempo, separar a ciência da espiritualidade, da religião, como se fossem coisas diferentes, mas tanto a ciência quanto a religião estudam os mesmos fenômenos, os fenômenos da natureza e tentam encontrar um denominador comum. A medicina é uma ciência, mas há muito tempo ela vem se conectando com as bases religiosas. Para vocês terem uma ideia da importância disso, nós temos um Congresso Mundial de Psiquiatria da Associação Mundial de Psiquiatria,o Congresso Mundial de Psiquiatria e Espiritualidade que já vai entrar para a sua quarta edição. Então, isso mostra que a medicina está de olho na espiritualidade, de acordo com os inúmeros trabalhos científicos que estão sendo publicados nos últimos 30 a 40 anos, que mostram a melhoria das pessoas em todas as clínicas. A oncologia, psiquiatria, neurologia, e cardiologia constatam que o contato com a religiosidade, melhoram os prognósticos do paciente. Esse é o conceito do religare, que é o significado da religião. A religação com a nossa fonte geradora, que é o que nós gostamos de chamar de Deus, mas cada um pode chamar do que quiser. Alguns vão achar que é o Big Bang, outros vão achar que é a natureza, tem outros que vão achar que é o Senhor, uns acham que é um Grande Espírito, outros acham que é uma fonte de energia, não importa. O que importa é a conexão com essa fonte, que possibilita ao nosso organismo entrar em um estado de harmonia. E essa harmonia dá poder para as células de reparo, de reorganização. Por que isso tem uma ligação muito maior com as doenças psiquiátricas do que com as doenças clínicas? Porque, por incrível que pareça, a única forma que a gente tem para entrar em contato com esse ser supremo, com Deus, é pela mente.

Selma Sueli: Interessante.

Dr. Caio Abujadi e Selma Sueli Silva durante gravação de O Mundo Autista

Dr Caio Abujadi: Quem entra em contato com esse ser é a mente. O corpo, teoricamente, não tem essa condição. O corpo pelo que se sabe, ele é organizado pela mente. A ciência já provou isso em cirurgias em que houve as situações post mortem*, que existe alma, que quem pensa não é o cérebro. Quem pensa é a alma, o espírito. Só que a ciência não quer dar o braço a torcer, então eles estão chamando de consciência. Então agora tem uma matéria nova, que se chama conscienciologia. Então o que eles descobriram com isso? Descobriram que, quando o corpo para de funcionar, quando o cérebro para de funcionar, existe algo que continua pensando. Pois, quando essas pessoas se recuperavam por algum motivo da morte em que o cérebro parava de funcionar, mas quando eles se recuperavam, existiam memórias do que estava acontecendo. Há vários livros na literatura científica sobre o assunto. Já tem a segunda ou terceira geração de cientistas que estudam esses fenômenos. O Fantástico costumava exibir reportagens sobre as experiências pós-morte, onde as pessoas viam túneis, luzes, coisas assim.

Selma Sueli Silva: Eu adorava!

Dr. Caio Abujadi: Eram alguns cientistas que estavam dando um pontapé inicial nesses estudos. Mas esses cientistas já tiveram alunos, que também já tiveram alunos e que já estão muito avançados nesses estudos. Havia hipóteses de que isso acontecia por causa de delírio, porque o cérebro, quando estava morto, estava inflamado, e a inflamação podia gerar alucinações e delírio. Mas, como podem muitas pessoas terem as mesmas alucinações? Os mais interessante disso é que eles começaram a estudar casos onde esses delírios eram mesmo reais. Isto é, essas pessoas que estavam sem consciência, quero dizer, que o cérebro estava sem funcionar, elas conseguiam ir até a casa de outra pessoa, enquanto elas estavam em cirurgia, mortas e descrever o que as pessoas estavam vestindo, descrever o que estava acontecendo enquanto o médico estava operando. Outras pessoas, além de sedadas, elas estavam com aquele pano na frente e mesmo sem conseguir ver o médico, depois ela relatava que o médico estava, por exempli, com uma caneta pendurada na orelha. Esses são os primeiros relatos que comprovam que quem pensa não é o cérebro.

O cérebro é um órgão em que o pensamento se manifesta, que transmite o pensamento. Ele é um transmissor, um tradutor daquele pensamento. Então, o que seria cuidar dessa mente? Como é que você cuida dessa mente? Você tem patologias que estão afetando o ser pensante, que seria essa consciência ou essa alma, essa estrutura mental, e você teria patologias da estrutura tradutora, que é o cérebro. Por exemplo: um indivíduo com o espectro do autismo, que é o que a gente está trazendo aqui. Existem problemas do neurodesenvolvimento e existe o ser consciente sem adoecimento. Mas o cérebro dele, que é a condição transmissora, está adoecido. Na hora que aquele ser pensante manifesta, ele presta uma condição diferente. Aí, você começa a conseguir explicar porque durante uma vida inteira pode se pensar que os autistas não estão aprendendo nada e, de repente, em uma fase da vida, eles começam a manifestar aquele conhecimento, deixando todo mundo surpreso, como aconteceu com a Carly Fleischmann, que começou a escrever, como se ela tivesse feito aula. Na verdade, todo o aprendizado que ela estava tendo na vida a consciência espiritual estava retendo normalmente, só que o cérebro não conseguia transmitir pelas vias léxicas, aquilo que ela estava aprendendo. E quando foi apresentado a ela uma outra forma de comunicação com a qual o cérebro conseguia atuar, ela mostrou todo o conhecimento que tinha. Se a gente for entrar nas ciências religiosas, a gente tem a mente, o espírito, nós temos um corpo espiritual. Na cultura oriental, seria o corpo energético, trabalhado pela medicina oriental.

Técnicas como a acupuntura e o reiki, aliviam o paciente. Por quê? Porque você reequilibra seu corpo energético. Além de você ter um corpo, você tem o espírito, o corpo espiritual e o físico. Essas três vertentes podem estar adoecidas. Eu posso ter uma doença do espírito, em que minha mente está enlouquecida. Eu posso ter uma doença do corpo espiritual, que é o corpo energético. E, eu posso ter uma doença do corpo físico. Eu posso ter uma doença dos três.

Dr Caio Abujadi: Além disso, o ambiente pode estar doente também. O espírito, o corpo espiritual podem estar bem e o corpo físico e ambiente onde estou pode não estar bem, porque o ambiente é tudo em que essas três vertentes se relacionam. Então, isso é muito importante de ser entendido porque é assim que a religião e a ciência se unem. Aí, está o processo de conexão entre essas duas questões. Quando eu me conecto com Deus, quando eu me conecto com essa fonte primária da vida, quem se conecta é o espírito, então ele se liga a origem de tudo. O espírito ganha o que algumas religiões chamam de processo de iluminação, de processo de estado de êxtase, é um estado mental único. Essa energia é tão forte, tão poderosa, que ela é capaz de harmonizar tudo. O meu espírito, o meu corpo espiritual e o meu corpo físico. Às vezes, essa pessoa está tão conectada, ela se conecta tanto com um êxtase tão grande que ela harmoniza também o ambiente que cerca ela, que é o caso de grandes seres. Buda fazia isso, Jesus Cristo fazia isso.

Conforme os relatos não só os relatos da Bíblia mas de pessoas que estudam sobre esse assunto, onde Jesus andava era uma energia tão grande que pode ser percebida até nos tempos atuais. É uma coisa muito forte. Eu fui para Assis, na Itália, no ano passado, conhecer a terra de Francisco de Assis. Quando você entra nos locais onde esse homem ajudava as pessoas, você se emociona e entra em um estado tão claro de energia que você você sente uma paz, você sente uma harmonia e aquilo contamina o seu coração.

Selma Sueli Silva: Você começa a vibrar naquela frequência.

Dr Caio Abujadi: Isso. A gente pode entrar em físicas mais profundas, físicas quânticas e entender o que é a matéria escura, o que é a matéria espaço-tempo e todas aquelas questões que ainda estamos tentando decifrar. Então, esse processo religioso é um processo químico, um processo físico. Ele é um processo que conecta a gente com a fonte mater. Essa fonte mater a gente pode dar o nome que a gente quiser, e que a ciência ainda não reconhece. Quando você realiza estudo placebo* de doenças epiléticas, doença epiléptica é uma doença física, uma doença orgânica, uma doença em que a pessoa entra em uma crise convulsiva. E é incrível que o placebo cura cerca de 40% das crises epilépticas. O que é o Placebo? É a fé. A fidelidade que o indivíduo tem ao que acredita. Então, mesmo que seja água com açúcar, isso muda o corpo dele. Como é que é o nome disso na religião? . Por esse efeito placebo, a gente percebe que onde está Deus, ele está dentro de nós.

Se você for estudar dr. Deepak Chopra*, ele tem aquele trabalho que ele acredita que as pessoas são capazes de se auto curar. E ele fala muito dessa ideia de você, a sua mente entrar em processo de entrar em abundância. Esse processo de meditação, o que é isso? É o êxtase religioso. É o mesmo processo que os apóstolos entraram no dia de Pentecostes, onde ficou todo mundo lá em êxtase e falando um tanto de língua e curando um tanto de gente. É o mesmo processo de iluminação.

Quando falamos de religiosidade, de espiritualidade muitas são curadas. Todas as religiões têm o cara de boa fé e o cara de má fé. Mas não importa o pastor, importa a ovelha.

Selma Sueli Silva: Doutor, você falou uma coisa interessante: o budismo tem várias linhagens. E a linhagem que eu e meu filho praticamos é a linhagem japonesa, do buda Nichiren Daishonin, que a gente acredita que seria a reencarnação de Shakyamuni ou Sidarta Gautama. Ele é do século XIII, contemporâneo de Francisco de Assis e com ideias próximas a Francisco de Assis. Enquanto o senhor dava essas explicações, eu fui seguindo e cheguei a conclusão: Gente, é muito lógico. Isso não é loucura, isso é lógica. E eu fico pensando na senhorinha que diz: “Ah, esse homem é muito culto e eu não vou conseguir isso nunca.” Na realidade, seguindo o pensamento do senhor, o que eu percebo é: A gente tem que cuidar da gente para ser, a cada dia, melhor do que a gente foi ontem, para a gente construir um mundo melhor para a gente e para o outro. Isso é que que harmoniza.

Dr Caio Abujadi: Exatamente. Esse que é o manual. O manual das religiões é um manual de relacionamento. Jesus deixava isso muito claro. Olha, todas as regras que vocês têm de religião, nada pode ferir o amor a Deus e o amor ao próximo. E onde você vai encontrar Deus? No próximo. Onde você vai encontrar a mim? No próximo. Então, harmonizar relações é religião. Você pode ser ateu, mas se você for uma pessoa harmônica nas suas relações, você é o mais religioso de todos. Porque é o processo de relacionamento. O que você precisa para harmonizar as relações? A gente criou nessa pandemia, e ajudamos muitas pessoas com isso, a série Esperança, que é uma série que está no canal no YouTube da Associação Caminho Azul, que cuida das crianças carentes e estuda o autismo no Brasil. A gente criou uma série de vídeos de 14 minutos, divulgados toda quarta e domingo, lá no canal no YouTube. E fala exatamente disso: de como eu me relaciono com as pessoas. Por que, antes de eu começar a me harmonizar com as pessoas, quem é a primeira pessoa que tem que se harmonizar? Eu mesmo. Você não pode começar no outro, você tem que começar em você.

*Post mortem, em latim, significa depois da morte. Porém, possui vários significados, dentre eles: o tempo decorrido após a morte de uma pessoa.

**Estudo placebo: também chamado efeito placebo, refere-se a qualquer substância ou tratamento inerte (que não apresenta interação com o organismo) empregado como se fosse ativo.

***Deepak Chopra, é um médico indiano radicado nos Estados Unidos, especializado em endocrinologia.

Saiba mais sobre Autismo e Espiritualidade:

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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