Como uma escola tem que estar por dentro tem que ser inclusiva? Selma Sueli Silva e dr. Luís Renato Arêas falam sobre qual estrutura uma escola precisa ter para ser inclusiva.
Selma Sueli Silva e Dr Luis Renato Arêas
Selma Sueli Silva: Já falamos por aqui da obrigatoriedade da matrícula do aluno com deficiência. Mas a família ainda fica apavorada: e dentro da escola, como deve ser?
Dr Luis Renato Arêas: Bem, ela tem que estar preparada. Já tem que estar preparada há um bom tempo, começa por aí. Não é se preparar somente quando recebe um aluno com deficiência. Ela tem que estar pronta para atender as especificidades daqueles alunos que fazem parte dessa escola.
É preciso que o corpo de funcionários esteja capacitado. Não só de professores. Desde aquele funcionário da portaria, que recebe os alunos a todos os educadores, passando pelos funcionários da cantina ao fornecimento de alimentos, por causa da questão da seletividade alimentar, no caso do autismo e de outros alunos.
Essa escola precisa atender a necessidade da sociedade, saber sobre as deficiências: o que fazer, como se portar, enfim, entender a necessidade do próximo, do aluno com deficiência. A gente tem que se colocar no lugar da pessoa e da necessidade do próximo, é algo que ultrapassa conceitos fechados. Em primeiro lugar, a escola precisa se preparar, precisa entender: “eu estou com um aluno com autismo”. O TEA (Transtorno do Espectro Autista) é um espectro de ampla abrangência. Às vezes, o comportamento de um autista pode ser totalmente diferente de outro, mas a escola precisa conhecer aquele aluno.
O professor precisa conhecer o aluno elaborar sua aula para atingir toda a classe. A classe é uma coletividade. Como coletividade, o professor não ensina para um aluno só, ele vai ensinar para aquele aluno que tem facilidade com matemática, mas também para aquele aluno que tem dificuldade em matemática. Vali lidar com aquele aluno que tem dificuldade em português. Então, ele tem que conhecer primeiro as deficiências: como aquele indivíduo é, quais são as necessidades daquele aluno e, acima de tudo, quais são as suas habilidades. O mais importante é saber qual é a potencialidade desse aluno?
Eu sempre ressalto essa fala porque, às vezes, a pessoa vai muito na questão da deficiência, naquilo que a pessoa não consegue. Há casos até de imaginar o que o aluno não consegue e isso não corresponder à realidade. Um bom professor é aquele que consegue ensinar para todos, de acordo com a possibilidade de cada um, e de acordo com a dificuldade também, isso é um bom professor.
Se não fosse assim, a gente colocaria máquinas para dar aulas, um robô falando, um vídeo passando. Não. O professor está ali para estimular o aluno, estimular o aprendizado para que aquele aluno possa se desenvolver por ele próprio. Então, é necessário que a escola esteja, primeiramente, pronta para entender as pessoas. Dentro da escola e, também dela, com os funcionários, familiares, profissionais de saúde e os outros alunos. Sem contar que as crianças nos ensinam a cada momento, elas não têm esse filtro horroroso que a sociedade tem de rotular as pessoas. Muitas vezes, são as crianças que ensinam para os pais.
Há, inclusive, um conceito muito errado de que o aluno com deficiência atrasa o desenvolvimento da turma. Esse pensamento é muito errado. Antes pelo contrário: o aluno com deficiência proporciona um enriquecimento muito maior no adquirir do saber, porque aquele aluno que não têm deficiência vai aprender outras formas de lidar com as diferenças. Eu digo sempre que sinto muito por nunca ter estudado com um aluno com deficiência. Na minha sala, o modelo era totalmente diferente, as crianças não estudavam e ficavam à margem do sistema de ensino. Hoje, com o nascimento do meu filho, que me despertou para isso, eu vejo o quanto que eu vivia para dentro de mim de forma errada.
O que eu poderia, desde de pequeno, ali na sala de aula, ter me aberto para isso, para uma consciência que eu não tinha. Então, a escola precisa se preparar tecnicamente para entender as deficiências e, claro, quando ela entende a necessidade e possibilidade do outro, ela vai se estruturando. Por exemplo, se tem um aluno cadeirante, a escola necessita de ter uma rampa de acessibilidade física, então ela vai ter que ter uma acessibilidade física ali.
No caso do autismo e deficiências intelectuais, a escola vai precisar de apoio escolar dentro da sala de aula para possibilitar também a interação entre aluno, entre os alunos e professor regente. Ainda vamos falar aqui, de uma próxima vez, desse profissional de apoio, do profissional de educação especializada. Qual o papel de cada um. Concluindo, a escola precisa capacitar esse corpo de funcionários, primeiramente, e assim ela vai saber lidar com as possibilidades de desenvolvimento desse aluno e vai saber lidar com as dificuldades da própria escola. A escola vai compreender e compreendendo, ela vai saber mexer dentro de sua estrutura para melhorar e evoluir, para que a educação seja para todos e não para alguns.
Selma Sueli Silva: É preciso conhecer para entender. E aqui, com a gente, você vai conhecer e perceber que tem jeito de lidar com a diferença e com esse jeito a gente vai ficar cada vez mais rico. Nós vamos falar desse profissional de apoio em sala de aula, vamos falar da diferença com o cuidador, a gente vai falar quando que é bom e quando não é. Fique ligadx nesse blog e se quiser tirar uma dúvida ou colocar uma sugestão, deixe seu comentário.
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