O AVC que não era meu

O AVC que não era meu aconteceu no dia 04 de março desse ano. Nunca gostei da expressão ‘meu avc’. Sai de mim, isso não me pertence. Mas aconteceu. E por que aconteceu? Agora que tudo é passado. Mas preciso entender os porquês para tentar que o fato não se repita. E foi o que fiz de lá para cá.

As descobertas sobre o AVC que eu não quero mais para mim

Desde 2015, me afastei do serviço formal e fiz a transição para a comunicação virtual. Como jornalista, passei a levar informações confiáveis às pessoas que se interessam sobre o universo da diversidade e inclusão. Conclusão: oito anos sem férias, com atividades de palestrante, escritora, youtuber, creator ‘y otras cositas mas.’

Além disso tudo, minha alimentação e horários não eram exemplares, havia o sedentarismo, veio a pandemia, cirurgia de minha filha, afastamento de amigos queridos, morte de meu namorado. E, certamente, cobranças, muitas cobranças. Num sábado de março, uma conversa mais ‘inflamada’ me levou ao AVC.

Sem sequelas o AVC é AIT – Acidente isquêmico transitório

Eu fiquei muito nervosa ao telefone. Desliguei e senti minhas mãos dormentes. Levantei e estava tonta. Caminhei com falta de equilíbrio. Enquanto isso, minha filha já havia contactado meus médicos e estava chamando o uber para irmos ao hospital. Neste momento, o uber costuma ser mais rápido que a ambulância, o que faz toda a diferença entra a vida e a morte.

Tentei passar algumas instruções para minha filhota. Mas as frases perfeitamente formadas em meu cérebro, se transformaram em poucas palavras salteadas em minha boca. Só apaguei quando me senti segura na presença da médica. Algum tempo depois, o que para mim havia parecido segundos, eu acordei na sala de recuperação aguardando o resultado da tomografia computadorizada do cérebro.

Quando a médica chegou, ela parecia surpresa pois meu corpo havia absorvido o coágulo. Então, eu não tive nenhuma sequela. Quando o acidente vascular cerebral – AVC não deixa sequelas, ele passa a se chamar acidente isquêmco transitório – AIT. Mas o alerta fora dado.

Escapei por pouco e, ainda assim, aquele AVC não era meu

A partir dali eu precisaria praticar exercício físico regularmente, ter alimentação equilibrada e descansar. Eu estava há 8 anos sem férias e isso é perigoso em qualquer idade. Diminui uma série de atividades, pedi licença de outras. Aliás, vou repensar para quais delas vou voltar. A vida é preciosa demais para que nos prendamos a determinados compromissos.

No entanto, sigo vigilante. O que mais existe no mundo são pessoas que tentam atrair você para a rotina delas. Por exemplo, filhos, familiares, amigos de religião, vizinhos… Todos querendo uma beiradinha. Não é que a gente vá se isolar. Não, não é isso. Devemos, sim, ter os olhos mais afiados e senso de seletividade. Caso contrário, não conseguimos separar o joio do trigo.

E, quando essa separação não acontece, ficamos a mercê de pessoas próximas sempre a nos cobrar atenção, ajuda, isso ou aquilo. Entretanto, eu aprendi, na prática, que tem outras poucas pessoas que são decisivas em nossas vidas. Elas vão mover céus e terra para trazer mais paz à nossa vida. E você, também, terá o máximo prazer de fazer isso por elas. Sem cobranças. Tudo ao compasso da fluidez da vida.

Selma Sueli Silva é criadora de conteúdo e empreendedora no projeto multimídia Mundo Autista D&I, escritora e radialista. Especialista em Comunicação e Gestão Empresarial (IEC/MG), ela atua como editora no site O Mundo Autista (Portal UAI) e é articulista na Revista Autismo (Canal Autismo). Em 2019, recebeu o prêmio de Boas Práticas do programa da União Europeia Erasmus+. Prêmio Microinfluenciadores Digitais 2023, na categoria PcD. É membro da UNESCOSOST movimento de sustentabilidade Criativa, desde 2022.