Um usuário apagou as Páginas Sophia Mendonça, Selma Sueli Silva e Mundo Autista da Wikipédia. Entretanto, elas estavam no ar desde 2020. Assim, como eu nada entendo do processo editorial para manter essa páginas, me interessei pelos motivos. Afinal, se havia erros, é sempre bom conhecê-los para não repeti-los. Mas tive uma surpresa: um autista adulto, radicado, atualmente, no sul do país, estava derrubando as páginas. E então, o motivo? Falta de relevância suficiente para constar na Wikipédia. Ah, não! “Wikipédia – relevância, meritíssimo!”
Relevância, meritíssimo
Assim, me cabe explicar que tanto eu como a Sophia Mendonça não somos adeptas de atitudes extremistas. Desse modo, nós priorizamos o caminho do meio, como budistas que somos. Aliás, o que implica em entender que a riqueza da humanidade está nas diferenças. Assim, são as diferenças que geram os conflitos – ideias incompatíveis entre pessoas ou grupos sociais. Logo, os conflitos são o que gera a criatividade na busca de alternativas, o que resulta numa sociedade plural e mais rica.
Contudo, não queremos o confronto, que nasce da impossibilidade do diálogo. Então, a essência é o diálogo, em uma comunicação transformadora, dentro da cultura de paz, que transforme positivamente, toda a sociedade. Assim, é preciso entender, por uma questão de relevância, senhor meritíssimo, por que um único juiz, que se identificou como usuário, decide algo assim? Um entre os 52 editores, muitos voluntários, aponta a falta de relevância e notoriedade das pessoas envolvidas.
E, dessa maneira, desconsidera que relevância é atributo de algo importante, por exemplo:
Para ser uma pessoa relevante e fazer coisas relevantes é preciso dedicação, foco, atenção ao escutar, persistência, ter atenção no próximo, atenção em si mesmo, fazer o que ama e amar o que faz. E, certamente, é preciso automotivação. É preciso fazer networking e criar afinidades. Hoje estamos em… com um total de …. seguidores, muitos deles tendo a vida impactada positivamente por nosso trabalho social.
Na internet, o assunto autismo e diversidade tem relevância social pois é de interesse de um grande número de pessoas em nossa sociedade.
Se isso não for relevância e até pode não ser, o fato de termos mudado a vida de muitas famílias para melhor deveria ser…
O que diz um dos 52 editores da wikipédia, Augusto Resende
“Sophia Mendonça eu sou editor da Wikipédia desde 2015 e eu vi que as páginas foram apagadas por regra de consenso da comunidade Wiki, nenhum editor antigo ao menos se posicionou contra a exclusão. A Wikipédia não é lugar para se construir notoriedade e se divulgar. É uma enciclopédia e não abrange tudo, política da comunidade Wiki. Centenas de artigos são eliminados por mês. Você mesma ou alguém conhecido construir uma página sobre você, provavelmente, pode ferir o princípio da imparcialidade e também é um conflito de interesses claro.
Obs: não opinei na eliminação por consenso pois vi o artigo a tempo. Apenas vi a votação já encerrada. Tentar recriar páginas que foram eliminadas por consenso é proibido. Exceto em casos específicos nos quais há notoriedade suficiente provado por fontes fiáveis. Além disso, devem ser independentes como mídia mainstream. Prêmios relevantes reconhecidos nacionalmente também contam.
Porém, configura vandalismo quando, por exemplo:
A pessoa remove suas edições sobre autismo em páginas que não são sobre você. E que nem mencionem seu trabalho e tenham fontes confiáveis. Então, você pode solicitar para qualquer administrador um bloqueio ao usuário.
Sobre autopromoção, a Wikipédia realmente não foi construída para isso, é muitas vezes é até negativo pra pessoa ter uma página quando ela se envolve em alguma polêmica séria que mancha a reputação, essa informação estará na página quer você goste ou não e não poderá ser retirada caso tenha fontes verificáveis e independentes. (Como assim? – eu pergunto. Soa como ameaça à nossa atitude de estranheza.)
Como assim?
Lugar de se promover, de construir a notoriedade necessária pra ter página na Wikipédia é fora dela, blogs, sites, livros, redes sociais, YouTube. Se ofereça para aparecer em matérias da imprensa mainstream mesmo que seja local da sua cidade, dessa forma você irá construir a notoriedade e ter fontes verificáveis para tentar ter um artigo.”
(Mais? Nunca precisamos nos oferecer. Já somos fonte confiável da mídia sobre Diversidade e Inclusão. Mais uma vez, tudo devidamente registrado. Aliás, e os prêmios que recebemos? Todos comprovados e documentados. E nossa presença massiva no Uol, Uai, TV Globo, TV Record, TV Minas, Jornais das cidades brasileiras em que demos treinamentos, consultorias e palestras? E nossa participação como membro do MOVIMENTO DE SUSTENTABILIDADE CRIATIVA, a Transcriativa, ligada à UNESCO? A proposta é facilitarmos um Brasil mais sustentável através da nossa criatividade mais genuína: o borogodó brasileiro, como consta no site da instituição. A Transcriativa UnescoSOST nos convidou porque unimos sustentabilidade e criatividade em nossas ações sociais. Assim, o movimento à frente da UNESCOSOST no Brasil, reconhece e valoriza o borogodó brasileiro, qualificando e entregando esse diferencial como estratégia para o mundo, em áreas de relevância reconhecida.)
O que diz nossa comunidade?
Wikipédia, ser arrogante é diferente de arrogar para si o que é legítimo
É arrogante a pessoa que age com insolência, arrogância; presunçosa. Quem se comporta com superioridade ou ostenta suas próprias qualidades. Entretanto, o que eu e minha filha, Sophia, arrogamos para nós e o Mundo Autista é o reconhecimento do resultado de nossas ações, de nosso trabalho social. Afinal, arrogar é ter como próprio; apropriar-se do que é seu, por direito. Ou ainda, assume, reclama, reivindica.
Dessa forma, arrogamos para nós o nosso trabalho social, devidamente comprovado e registrado. Não reconhecer os fatos comprovados é causar o apagamento de uma história, de uma trajetória. E isso é muito grave!
Um pouco sobre a não sujeita Sophia, nas palavras dela própria, em artigo escrito em 2020
“Com Deleuze (1995), percebi que a construção histórica do dispositivo – na verdade, uma “meada”, para usar as palavras do próprio autor, se dá como frutos de negociações. Aliás, negociações que nem sempre, são pacíficas ou igualitárias. Os dispositivos, porém, carregam linhas de fissura e subjetivação. Todo dispositivo se define, pois, pelo que detém em novidade e criatividade, o qual marca, ao mesmo tempo, sua capacidade de se transformar ou se fissurar em proveito de um dispositivo do futuro (Ibid.).
O que nos deve ficar claro é que os dispositivos existem, e basicamente são as formas como os poderosos nos controlam, como eles exercem o poder sobre nós sem percebermos. Isso pode ir desde a forma como somos educados na escola até aquilo que vemos na TV. Qualquer meio que possa nos influenciar, e, consequentemente, nos domesticar (no sentido de nos deixar dóceis a uma ordem) é um dispositivo. (Do site Nau dos Loucos)
Isso traz a reflexão sobre como dar visibilidade, inclusive no que tange aos tratamentos médicos e os grupos de apoio, a uma parcela significativa das pessoas autistas transgênero. Ainda assim, mesmo que haja uma tentativa de apagamento de determinado grupo histórico, ele continuará produzindo, mesmo não sendo visto, ou sendo visto como aquele que não produz textualidades (MBEMBE, 2018).
E Sophia continua…
Assim, chego a pensar na possibilidade de um cenário propício até mesmo ao “desentendimento”. Afinal, esse “desentendimento” ocorre quando pessoas, sem condição de produzir sentido por meio de suas falas, reivindicam o direito à participação em esferas sociais e o direito de escuta por quem já conquistou esse lugar, como alguém que faz parte das negociações de poder (RANCIÈRE, 1996).
Novamente, este é um processo que tende a trazer contornos violentos, e é o que Rancière conceitua como “política”, numa concepção diferente da que o público em geral, costuma utilizar para se referir à palavra na atualidade. O mesmo ocorre com o termo “polícia”, que significa a negociação entre quem já é visto como sujeito e é, conforme o autor, o que predomina na maior parte do tempo na sociedade.”
Simplificando: Apagam-se os registros escritos na tentativa de apagar a pessoa e sua autoralidade.
“Wikipédia – relevância, meritíssimo!”
Como o tal usuário, pode e pôde, sozinho definir a nossa relevância? E como a comunidade wiki acatou, em consenso, sem uma verificação aprofundada?
Relevância eu e Sophia temos lá fora e não em nosso país? Como podemos constatar pelas páginas da Wikipédia em inglês e espanhol?
Confira nossas páginas em inglês, clicando abaixo:
Conclusão:
Por fim, entendemos que, com regras autoaplicáveis, o ser humano é eliminado do processo. Recebe-se o texto e um aplicativo ou coisa semelhante enquadra ou não dentro da norma fria da regra. Entretanto, no meio do caminho tinha o ser humano que agiu como se tivesse isto sim, uma pedra no meio do caminho. Afinal, esse ser humano falhou em perceber a nossa contribuição em nível nacional e mesmo lá fora. É a nossa contribuição social que referenda e dá robustez ao nosso ativismo, diante de nossa comunidade, da área médica e da área da educação, desde 2015.
Contudo, o golpe ainda nos foi mais violento. Esse ser humano não é um desconhecido. Até então, agia como um amigo. Não há como entender alguém que se sente orgulhoso de cumprir as regras mas o faz na surdina. Se essa pessoa nos conhece de perto, porque não nos ouvir? Por que se esconder atrás do anonimato de um usuário que não leva o seu nome?
Assim, se você como os nossos seguidores, inclusive aqui no Portal Uai, acompanhe os números abaixo, participe de nossa campanha e assine nossa petição agora!
O Mundo Autista e o Portal Uai, questão de relevância wikipédia
Então, bora lá? Para a volta das páginas ligadas ao Mundo Autista na Wikipedia, clique e assine a petição abaixo:
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.
Pessoal descobri esse curso que ensina todos os direitos que Autistas tem por lei que
pode ser útil pra quem esta com alguns duvidas sobre seus direitos
https://bit.ly/Direitodos-Autistas