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Quem nunca sofreu ataques pela internet?

Encerrando a série de entrevistas com Andrea Werner, ela fala sobre “haters” e ataques pela internet. Como se dá essa exposição, a missão e os desafios que isso representa.

Selma Sueli Silva: Nessa série de quatro entrevistas, Andréa, eu quero falando sobre a exposição que ser ativista pela causa da pessoa com deficiência pode trazer. Certa vez, ouvi este comentário: “Olha as fotos o que a Andrea está postando.”. Você estava linda em uma praia, no exterior. “É rica, né? Tem com quem deixar o filho autista. Hoje, como digital influencer que você é você é bem acolhida, é criticada? Como é lidar com isso?

Andréa Werner: Selma, você já viu aquele ditado: “todo mundo vê as pinga que eu bebo, mas não vê os tombos que levo?”. Quando você mora na Europa, viajar é barato. Mas lá não tinha glamour, não. Era esquentar a barriga no fogão e esfriar no tanque. Não tinha babá, não tinha nada, zero. Nada, nada. Era isso. Eu era “mãetorista”, fazendo almoço, fazendo janta, limpando casa, lavando roupa, guardando roupa. Essa era minha vida na Europa, basicamente. Aí, uma vez que viram fotos minhas na praia bastou para uma série de julgamentos. No momento em que você consegue se posicionar, você vai ter ‘hater. Só não tem hater quem vive em cima do muro. Isso serve para a nossa comunidade do autismo, da deficiência, de qualquer lugar. E ok, é legítimo a pessoa que quer ficar em cima do muro, porque não é fácil. Se você se posiciona, você vai apanhar. É quando começam as ‘Fake news’, porque eu já li muitas mentiras sobre mim. O pior é que não era algo como a pessoa se enganar. Não, a pessoa não se enganou. A pessoa inventou aquilo, propositalmente, para me atingir. Já aconteceu comigo várias vezes. E eu não posso virar para você e falar: nossa, eu sou uma pessoa super superior e falem mal, mas falem de mim. Óbvio que me incomodo. Tem algumas coisas em que você vê muita maldade mesmo, umas coisas que chegam ao meu ouvido e eu falo: a pessoa não fez isso por engano, ela fez por maldade mesmo. Mas eu ficaria muito mais incomodada se eu não falasse o que eu penso, principalmente pela certeza que eu tenho do que estou falando. Assim, eu comecei e apanhei. Eu falei mais e apanhei mais. Recentemente, eu fiz um post em que eu apanhei muito, mas muito, perdi uns 200 seguidores em um dia porque me posicionei. Mas, se eu não falar, se eu não me posicionar, isso vai me custar muito mais do que se eu falar e vier comentário raivoso, e eu tiver que banir, eu ficar sabendo de fake News… não é uma escolha fácil não, mas é isso aí.

Selma Sueli Silva e Andrea Werner durante a gravação do Programa Selma Sueli Silva

Selma Sueli Silva: Eu exercitei a minha vida toda, tanto que eu sou budista, o caminho do meio. Depois do diagnóstico eu descobri que a posição extrema me assusta. Em 2017, aqui em casa, essa questão dos extremos custou uma crise muito séria em mim e no meu filho, por causa de comentários na internet do tipo: “ela quer aparecer, ganhar dinheiro com o autismo. Mas você se expor, não é fácil. O preço é muito alto. Só a gente é que sabe. A exposição tem esse preço. No meu caso, eu tendo a minha posição e todo mundo sabe: sou budista, eu sou de centro-esquerda pois eu não posso negar as minhas origens. Adoro ouvir opiniões diferentes da minha. Se me incomodo? Claro, mas há aprendizado nisso também. Às vezes, eu reafirmo a minha posição exatamente por causa da posição daquela pessoa. Então, eu escolho as palavras. E você me encanta porque você não chega a ser aquela pessoa grosseira, mas você é bem assertiva. E eu sei que isso tem um custo maior porque eu que escolho as palavras para emitir a minha opinião, eu apanho, imagina você. Você já passou por muita saia justa

em função da sua militância, do seu ativismo na questão da inclusão. Essa militância hoje, não se restringe só ao autismo, seu ativismo é pela inclusão, de uma maneira geral, por uma sociedade mais justa. Nas suas viagens pelo estado de São Paulo, você já teve algum momento em que você ficou assustada?

Andréa Werner: Não, porque eu acho que as pessoas são muito valentonas na internet. Pessoalmente, elas se seguram. A única vez que me bateu um receio foi no ano passado, porque eu estava batendo na tecla do MMS, que é aquele alvejante que dão para a criança autista falando que ela vai se curar e eu comecei a receber muita ameaça pela internet. Naquela época, eu viajei para fazer palestra em Pelotas, no auge do povo falando que ia me pegar na rua e bater em mim, coisas assim, por causa so MMS. E lá em Pelotas, eu fiquei tensa, porque sempre que termina a palestra, as pessoas fazem fila, vem tirar foto comigo, vem me abraçar, querem que autografe livro e eu me lembro que eu estava tensa. Se alguém encostasse no meu ombro, eu já virava bruscamente, sabe? Aquela época foi, especificamente, tensa. Tirando essa parte do MMS até hoje, não. Se eu for eleita à vereadora de São Paulo, pode ser que sim,que eu fique mais assustada porque eu estou em um partido de esquerda. Todas as parlamentares que eu conheço de partido de esquerda, andam com segurança, porque infelizmente tem crime de ódio e a gente teve uma vereadora do PSOL assassinada com quatro tiros na cabeça. (A vereadora Marielle Franco, do Rio de Janeiro, que foi assassinada em março de 2018).

Selma Sueli Silva: É um crime sem solução até hoje.

Andrea Werner: É, até hoje. Então, isso é uma coisa que, se ganhar, eu vou ter que pensar. Mas, por enquanto, foi só questão da MMS que me deixou com mais medo, mais receio.

Selma Sueli Silva: Legal você falar isso, porque essa questão do MMS eu fiquei muito orgulhosa de você e é exatamente, por ser um assunto difícil. Você trouxe denúncias à tona e comprou a briga. Evidente que já tinha algumas coisas vindo, mas você reuniu isso tudo, o que exige estudo, exige argumento, fundamento e a matéria culminou no Fantástico. Esse movimento transforma o mundo. O medo exige da gente prudência. Mas, a coragem é a gente avançar com medo e tudo.

Andréa, o que eu posso dizer é que eu amei os nossos bate-papos e não vai terminar somente nesses, não.

Andréa Werner: Eu super agradeço o convite, qualquer dúvida, basta as pessoas me procurarem nas minhas redes. E, estamos aí para o que o Mundo Autista precisar, vamos continuar trocando figurinha.

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