Autismo

Danielle, Asperger e o autismo no feminino

A contadora de histórias, Roberta Colen, escreveu sobre o livro, Danielle, Asperger, o autismo no feminino:

“A pior coisa de quem tem uma síndrome como autismo é que todo mundo subestima seu sofrimento. Eu quero ser compreendida, não quero alguém falando que eu não sofro. Neste momento, estou pulando em cima da cama. Apenas me sinto tão agitada que não consigo chegar nem perto de ficar parada. Não sinto prazer em nada do que eu faço, às vezes nem assistindo aos filmes e novelas de que gosto. Aí vem fobia social, vem anorexia, bulimia. Eu já tive ou tenho tudo isso. Depois dizem que eu tenho autismo leve. E não sei o que há de leve nisso!

Autismo no feminino

Algumas pessoas que me encontram de vez em quando podem achar que não há nada de diferente comigo. Claro, sou muito observadora e, portanto, conheço as regras. As pessoas chegam até mim e perguntam: “Tudo bem?” Eu não vejo sentido algum numa pergunta que não quer a resposta certa, mas aprendi que, se respondesse que estava tudo bem, as pessoas iriam me aceitar. Era tudo o que eu queria. Ser aceita. Ser aceito é tudo que todo mundo quer. Mal sabia que eu mesma teria que me aceitar primeiro. Por exemplo, apesar de todo mundo dizer que me visto de forma extravagante, de todos os vestidos que eu tenho há um único com textura do tecido que não me incomoda. Por isso, repito tanto algumas roupas que não me incomodam.

Imagino-me atuando na novela “Vida de Cinderela” junto da Sabrina Andrade.  Ela é meu ídolo. Assisto quantas vezes eu quiser. Chego a repetir as falas dos personagens. É difícil explicar o prazer que um autista tem ao fazer algo de seu interesse. Acredito que estar em contato com um produto artístico e de entretenimento é infinitamente melhor que estar em contato com outra pessoa. É muito mais fácil. Você só tem que apreciar a obra e se divertir. Sem contar que uma obra assim não rejeita, não trata mal nem finge que você não existe.

O mundo ideal de Danielle, Asperger, autismo no feminino

Eu, se ficasse rica da noite para o dia, iria querer me mudar para um lugar bem isolado e pacífico, com coelhinhos e gatos, muitos gatos. Eu simplesmente adoro gatos. Eles são diferentes dos cachorros porque, assim como eu, também são mais “na deles” e não gostam muito do toque. Eu poderia ficar sozinha com meus gatos. Gosto de ficar sozinha, de ter um tempo só para mim.

Vida que segue. Olho para o meu planejamento e vejo que é hora de navegar na internet. Digito no Google o nome Sabrina Andrade para obter novas informações. Ela realmente foi solta e poderá ficar em liberdade até o final das gravações da novela.

É aí que tenho a grande surpresa do dia. Surpresas no geral são terríveis, mas esta foi muito bem-vinda: trata-se de um concurso de redações cujo tema é “Faça uma análise crítica da novela ‘Vida de Cinderela”. Mole para mim, eu penso, mas ao mesmo tempo sei que as possibilidades de eu participar de uma competição assim são remotas. Tenho medo de me expor. Esqueço esse medo assim que leio na tela que o prêmio é passar um fim-de-semana na mansão da atriz Sabrina Andrade. E tendo a própria Sabrina como anfitriã! Uma oportunidade que eu não posso perder.

Sobre hiperfoco de Danielle, Asperger

Pensando bem, eu tenho alguma chance de ganhar. Afinal de contas, eu estou sempre acompanhando a Sabrina. Conheço todos os papéis que ela interpretou, suas preferências, suas opiniões sobre as questões políticas, os problemas sociais. Infelizmente, também já li tudo sobre as confusões em que ela vive se metendo por causa do temperamento e da rebeldia.

Ver vídeos da Sabrina me dá uma nostalgia gostosa e ao mesmo tempo uma melancolia imensa. Queria que voltassem esses tempos, tão bons tanto para a carreira quanto para a vida pessoal de minha estrela. Talvez porque, naquela época, as coisas não eram boas só para ela, não. Eram para mim também. Lágrimas começam a pesar nos meus olhos, mas não consigo chorar. Isso acontece muito comigo, não me pergunte o porquê.     

Confesso que, desde que descobri a existência do concurso, minha empolgação diminuiu. Tudo bem, eu participo, mas desde que tenha uma condição: eu não falo em público. As pessoas confundem timidez com fobia. Eu tenho a segunda. Todas as vezes que chego perto de uma situação assim começo a tremer, tenho taquicardia e minha respiração fica ofegante. Tortura pior que essa eu desconheço. Acho que o estresse para tentar parecer “normal” não compensa. Eu quero ser eu mesma. No meu quarto, ligo o tablet e acesso o e-mail. Engraçado, tem um falando alguma coisa sobre a Sabrina Andrade. Nunca, em hipótese alguma, eu poderia esperar pelo que viria…

E, se você quiser saber mais sobre essa história, leia “Danielle, Asperger, autismo no feminino”, de Sophia Mendonça.

Roberta Colen

Mundo Autista

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