Autismo, Hiperfoco e Neurodiversidade - O Mundo Autista
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Autismo, Hiperfoco e Neurodiversidade

Autismo e paradigma da neurodiversidade afirmativa. Hiperfoco não tem nada de bom? Análise sobre a visão patologizante do autismo, Hiperfoco e Neurodiversidade.

Autismo e paradigma da neurodiversidade afirmativa. Hiperfoco não tem nada de bom? Análise sobre a visão patologizante do autismo, Hiperfoco e Neurodiversidade.

Autismo e paradigma da neurodiversidade afirmativa. Hiperfoco não tem nada de bom? Análise sobre a visão patologizante do autismo, Hiperfoco e Neurodiversidade.

Autismo e paradigma da neurodiversidade afirmativa. Hiperfoco não tem nada de bom? Análise sobre a visão patologizante do autismo, Hiperfoco e Neurodiversidade.

O que ocorreu?

Recentemente, um médico conhecido na comunidade do autismo fez um vídeo dizendo que o hiperfoco não traz nada de bom, e que se não trouxer prejuízos não é considerado um hiperfoco.

Para ele, o hiperfoco não ajuda a se regular e nem ajuda a se sentir bem. Então, se fizer isso, não é um hiperfoco. Agora vou traçar alguns comentários sobre essa fala.

O que é hiperfoco?

Hiperfoco é uma condição que traz um interesse intenso sobre determinado assunto. Assim, é um tema de interesse que faz você ficar pensando naquela temática com muita intensidade. Fazendo uma analogia, era como se fosse um disco de vinil rodando na sua cabeça toda hora, sem parar.

O hiperfoco está presente no grupo ‘’B’’ dos critérios diagnósticos de autismo. Aliás, esse grupo se divide em: hiper/hipossensibilidade sensorial, stims, hiperfoco e aderência à rotina. Inclusive, o grupo ‘’B’’ para ser preenchido admite no mínimo 2 de 4 dessas características, ou seja, não necessariamente uma pessoa autista vai ter um hiperfoco.

Mas afinal, é uma coisa boa ou ruim?

A resposta assim como tudo no autismo é: DEPENDE. O hiperfoco, na verdade, é uma condição neutra, pode sim te trazer prejuízos, a partir do momento que por exemplo você precisa fazer outras atividades como arrumar a casa e estudar para provas.

Porém, você não consegue parar de pensar naquilo e fazer atividades relacionadas ao seu hiperfoco. Mas, ele também pode ser extremamente positivo. Então, vou mostrar algumas situações em que o hiperfoco me ajudou BASTANTE.

Na depressão

Durante o auge da minha depressão, eu hiperfoquei em comédia e autismo. Então, eu assistia a filmes, séries e tudo mais de comédia e de autismo. Assim eu acordava e já botava na netflix uma série de comédia.

Com isso, passava o dia todo vendo filmes de comédia. E isso me ajudou MUITO nessa fase hiper mega complexa. O hiperfoco em comédia e autismo naquele momento me deu ânimo para continuar vivendo (inclusive esses hiperfocos continuam até hoje)

Me ajudou a criar esse perfil e fazer palestras

O meu hiperfoco no autismo pela visão neuroafirmativa foi quem me fez criar esse perfil, que me permitiu fazer palestras sobre autismo em 2024 em eventos como o GORN, na universidade e em vários outros lugares, e em todos esses momentos eu me senti extremamente feliz e vivo.

O hiperfoco me mostrou que eu tenho competência sim para várias coisas que eu pensei que não tinha, me ajudou a desenvolver várias habilidades de comunicação ao público etc.

Visão patologizante do autismo

A visão do hiperfoco como algo estritamente negativo e que só traz prejuízos, reflete a visão patologizante do autismo, que resume o autismo à uma série de déficits, problemas, dor, com zero potencial de desenvolvimento e com zero de possibilidades de ter qualidade de vida.

Isso fomenta o ódio em ser autista, o que promove uma maior probabilidade de desenvolvimento de baixa auto estima, depressão, TAG, burnout que pode levar ao su1c1d10.

Portanto, sobre Hiperfoco e Neurodiversidade:

Precisamos mostrar o lado real do autismo, mostrar que ele é composto sim por dificuldades, porém não podemos resumir o autismo a isso, porque os efeitos disso são extremamente prejudiciais para a nossa saúde mental.

Precisamos mostrar que o autismo não é o problema (e sim uma sociedade que não foi feita para neurodivergentes) e que quando você tem as possibilidades certas, você pode sim ter qualidade de vida. Além disso, precisamos nos lembrar quem decide se o hiperfoco é bom ou ruim, é o próprio autista.

Acesse o canal Mundo Autista, no YouTube.

Autor

Eduardo Lisboa Dantas é palestrante sobre autismo e neurodiversidade, integrante do Instituto Le Blue e da associação Autistas Brasil. Mantém a página do Instagram Neurodiversidade Simplificada.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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