O Mundo Autista

Autismo e o hiperfoco na terceira idade

Autismo e o hiperfoco na terceira idade. A foto mostra um pé de manacá com flores roxas e brancas. A outra mostra esse pé de manacá à note, com flores lilás e roxas.

Manacás e suas flores roxas, lilás e brancas. Arquivo MA

É comum que as famílias com parentes autistas queiram saber como ele será na fase adulta. Entretanto, autistas também envelhecem. E ao envelhecer as características intensificam ou desaparecem? Por exemplo, como funciona o autismo e o hiperfoco na terceira idade?

“Quanto mais velho , mais ranzinza.” Será?

Há um ditado popular que sentencia: “Quanto mais velho , mais ranzinza.”. Essa é uma generalização cruel pois a velhice é, apenas, mais uma fase de uma vida que teve boa sorte de chegar até lá. Então, como a velhice ou terceira idade funciona? Ora, se o ser humano evoluiu durante as etapas anteriores, se transformou limitações em aprendizado, se cuidou do tesouro do corpo, do cofre e do coração a terceira idade será leve para a pessoa e a família.

Certamente que haverá problemas e desafios. Porém, quando a pessoa vive para se transformar, positivamente, a cada dia, esses desafios serão em menor número. E, com certeza, serão mais fáceis de serem encarados. Entretanto, se não cuidarmos de nosso processo de aprendizado e transformação ao longo da vida, essa etapa da vida não será nada fácil. Nem para a pessoa e, muito menos, para a família.

O hiperfoco na terceira idade

Uma das coisas que é bom saber sobre hiperfocos, é que eles mudam durante nossa vida. Entretanto, alguns permanecem, mesmo que com uma nova roupagem. Exemplo disso, aconteceu comigo. Amo os romances de suspense da Aghata Christie. Ela era minha deusa e foi minha companhia na fase da adolescência. Sem ela, eu não teria sobrevivido!

Agatha Christie (1890-1976) foi uma escritora inglesa que criou “Hercule Poirot”, um detetive belga que aparece em 33 de suas obras e tornou-se um dos mais célebres da ficção policial. O meu preferido. Agatha foi a maior escritora policial de todos os tempos. Escreveu 93 livros e 17 peças teatrais. Entre 15 e 20 anos eu já havia lido 80 livros dela.

‘Hercule Poirot’ – um papel de parede criado por TheCountess com David Suchet como o grande Poirot

Atualmente, não a leio com a constância de antes. Mas, sempre releio uma de suas obras e busco filmes inspirados em seus livros. Assim, com o tempo, esse meu interesse se expandiu para livros, filmes e séries de suspense, investigação. Tudo que me faça, durante o lazer, tentar descobrir algo, ou acompanhar a linha de pensamento de quem quer descobrir algo. Foi, dessa maneira, que devorei todo o seriado “House”, “Gray’s Anatomy”, “A Lista Negra”, “Os mistérios de Miss Fisher”, “Sexto Sentido” entre outros.

Minha mãe e o hiperfoco na terceira idade

Confesso, quando mais jovem, não tinha muita paciência para ouvir as narrativas de minha mãe sobre filmes assistidos por ela. Além disso, outros assuntos, dominavam seus diálogos: bordados desafiadores, estratégias novas utilizadas para o aprendizado de seus alunos, a fase do estudo de Direito, as poesias. Contudo, havia um assunto que era o preferido dela: a beleza da natureza.

Este último, em particular, me encantava. Mas viver a juventude e a fase adulta, já me tomava todo o tempo. Assim, eu a ouvia menos do que gostaria. Não tinha tempo. Viver em sociedade me exigia muito esforço. Constantemente, sentia minha energia completamente sugada, no fim do dia. Até que…

O tempo que voltamos a saborear, na terceira idade

Hoje, eu e mamis temos mais idade. E mais tempo. Eu e ela estamos aposentadas do trabalho formal. Entretanto, amamos escrever, falar das flores. Ela me ensina sobre as ervas, os chás (como pode conhecer tanta coisa?) Ela me conta histórias das décadas vividas. E, por isso, acompanho a história de meu país pelos olhos de quem viveu essa construção.

A inteligência de mamis me encanta. A coeducação de gerações é algo mágico, cheia de sabores e vida. Certo é que temos nossos conflitos também. Mas, nessa fase de nossas vidas, não permitimos que se transformem em confronto. Por isso, continuamos crescendo, ampliando horizontes.

Ainda em outro dia, ela me falava sobre o manacá. Estávamos em seu pequeno sítio. Perguntei por que essa flor apresentava duas cores: branca e rosa. Mamis me disse que, as plantas também, vivenciam ciclos de vida. Como nós. Assim, as flores brancas atingem uma coloração rosa claro, que vai se tornando mais forte, à medida que a noite chega. Lindo demais!

Texto de Selma Sueli Silva

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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